domingo, 29 de julho de 2012

DEIXEI MEU SORRISO

Deixei meu sorriso
guardado, sob a chuva
repentina,
encostado ao muro de 
tua volta,
como se o bule,
os pães e a manteiga
embolorassem,
o café esfriasse,
a comida dos teus
dedos nascida
amainasse meu destino
e solidão.


Achei meu desatino,
à beira da tua volta,
plantei a tangerina
perfumosa no seu mar
de aromas,
e ao sol das tuas rosas,
ao pé do teu sorriso,
e para que o meu rosto
ganhasse a estrada
luminosa da tua volta,
voltei para tua casa
para ficar por ficar,
atrás da porta,
depois da escada,
ao lado dele,
que hoje nos vigia,
acendendo velas no escuro
de nossa saudades.


(Ele era o cão de guarda
e a mão que nos enxota,
afagando)

Atrás da porta,
depois da escada,
ao lado dele,
ao meu lado,
avó não esquece
a porta
e o trinco,
avó não esquece
que, com meu ossos,
mora,
e no jardins das suas novelas,
deixa as plantas por aguar,
as fofocas por fazer,
e a grinalda de minha mãe...


Consentir amando tudo,
quando tudo
que teus fornos
fazem são meninos e meninas
da vizinhança
da minha memória,
da permanência
da minha saudade,
dos cães que furam
os meus brinquedos,
do frango frito engordurado
pegajoso como um domingo,
ao teu lado.


E a boca fala
o que a mão esquece de escrever,
e o peito arfa
a minha avó
cuja vida
engana o pranto,
que é de parar
quando te encontro
sem nunca parar.

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