terça-feira, 17 de julho de 2012

TOURO

MINAS GERAIS

O boi pousa as patas sobre o mundo,
como nós.
E não se esquece,
quieto e concentrado,
de sua tarefa azul
de mastigar o dia.

E com respiração rasteira
espera a morte:
a sempre-vida entre o chifre e as patas.

E há sobre a vida
e sobre o torso do meu boi,
que, sobre o campo,
mastiga a terra, o sol e as nuvens,
um touro intacto de ar.

E há sobre a vida,
entre o boi e a terra e pelas patas,
uma resignação voluntária
que mastiga os olhos,
invade e mata,
o sono bovino e o sono dos homens.

E há sobre a vida,
desde a cabeça até o começo do ar,
a fome que se embola, instala e mora
pela boca,
pela baba, pela boca, pela baba,
que a invoca.

E há sobre os chifres,
a dura vida que nos mastiga.
O boi selvagem, o boi das carnes,
o boi dos dentes, o boi das tardes.
O boi terragens, o boi da boca,
que esmiuça e umedece,
o sol das casas,
pela boca, pela baba,
pela baba, pela boca,
pela boca,
pela baba.

Nenhum comentário:

Seguidores