terça-feira, 17 de julho de 2012

MEUS PAPÉIS ESTÃO GUARDADOS

Meus papéis estão guardados
solidão nos cinco lados,
do meu corpo, minha vida.
Dou-te o pão e a alegria
peço em troca a vazia
dor esguia e repetida
que é metáfora conseguida
junto ao termo dos meus dias.

Meus papéis estão riscados
solidão é pó e fardo,
meus amigos dormem juntos
como pedras sob juncos:
dou-te em troca o meu açoite
meu cuidado com a noite,
que o silêncio é peso imenso
do cansaço por de dentro.

Meus lençóis estão virados
como o embrulho dos cuidados
das crianças quando nascem
que do útero se perfazem,
se despedem porque as flores
das sementes se distraem.
Dou-te o gozo e o meu arado
quero em troca a terra, o prado.

Meus assuntos estão calados
mas exponho os meus braços,
que são dois dos cinco lados,
meu conserto atravessado
pelo corpo em cruz levado.

Meus papéis estão guardados,
mas meus pés são pés furados
e são dois dos cinco lados
regulados, bem olhados,
pelo mundo volteados.

Meus lençóis estão calados
nos meus muros arejados
com o pó emparedados,
achatados no caiado,
branco e puro desagravo
da memória dos meus dias...

Meus papéis foram deixados
escondidos, preparados,
pelo alto da minha vida:
minha cabeça descobrida,
alto lado sem saída
para os lados da partida,
que é só um dos cinco lados.
Solidão, poeira, fardo
são papéis bem olvidados
são lençóis amarrotados
da lixeira retornados.

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