segunda-feira, 16 de julho de 2012

CARTÃO-POSTAL

PARA A paisagem
que parece me desafiar,
encontra-se uma solidão sem data,
e volta com uma voz de morro:
"Sonha e vê!"

Para a paisagem,
que engana o traseunte
e trama a morte
engana a morte
escorre do ouvido que passa
e vê o muro da significação
murar o mundo e o morto.

Para a paisagem,
me escolhe intacta por horas,
por horas a fio me encolhe,
ensombrada por meus braços,
mas rendida por meus pés.

Para a paisagem
que não pisa a certeza,

para a paisagem sofrer
a dor de dizer-se sempre
e esperar a humana volta.

Para a paisagem toda,
que é homem, que é mulher,
que é caneta,
que é soluço,
arrulho de pomba,
assunto dos dias velhos,
e dos novos tempos,
que é pomar,
que é rocha,
Para a paisagem que também foi
porta
Para a paisagem
que descobriu,
adivinhou um tanque em mim
cheio de sementes,
Para a paisagem que não
mente.

Para a paisagem que esqueceu
da tarde,
e a deixou envolta em sede,

Para a paisagem

toda preta, preta,
toda preta, preta, preta.

A paisagem que escuta
o grito filho e falho do algoz
a paisagem bomba
a paisagem pente

a paisagem.

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